segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Festa de Natal do IPO

Sabemos que, ultimamente, o blog não tem sido muito actualizado. No entanto, o trabalho tem avançado a olhos vistos.
Queríamos agora contar-vos e experiência que tivemos no dia 18 de Dezembro. O grupo deslocou-se ao IPO do Porto para assistir à festa de Natal, onde actuariam os “doutores palhaços” da Operação Nariz Vermelho.
Foi um sucesso. E falo-vos da festa em si, do que representou para as crianças (e não foi preciso que no-lo dissessem por palavras, os sorrisos bastaram), mas também do que contribuiu para o nosso trabalho.
Como já dissemos, estamos a planear fazer um documentário no fim do ano, para mostrar às pessoas que o hospital tem de ser, acima de tudo, um lugar humano e, por isso, um lugar de amor.
Assim, conseguimos arranjar à última da hora uma máquina de filmar já um quanto antiga, e preparávamo-nos para com ela filmar tudo o que pudéssemos e que fizesse sentido incluir no documentário.
O que não esperávamos é que, no IPO, nos abrissem todas as portas e nos recebessem ao ponto de nos emprestarem uma máquina com uma qualidade altíssima para filmarmos o espectáculo. Única condição: filmarmos o espectáculo inteiro, para que pudessem ficar com uma recordação do mesmo. Depois, ceder-nos-iam a gravação, e poderíamos com ela fazer o que quiséssemos.
Ficámos ra-di-an-tes. As expectativas em relação àquela festa eram altas, porque seria o primeiro contacto directo com o trabalho da Associação Nariz Vermelho. Não sabíamos se nos deixariam filmar, não sabíamos se nos deixariam sequer ficar numa festa que não era nossa. Mas estávamos lá dentro, e para já era o que interessava. Só faltava um pormenor muito importante: falarmos com os doutores palhaços e perguntarmos se poderíamos, mais tarde, utilizar aquelas imagens num documentário para a escola.
Estávamos nervosos em relação a isso. A verdade é que tínhamos aparecido de surpresa, e não tínhamos a certeza de serem totalmente receptivos. Mas mais uma vez, superaram as expectativas. Foram muito simpáticos, e surpreenderam-nos muito: julgávamos que iriam ignorar a pequena máscara que tinham na cara e iriam falar seriamente connosco, porque naquele momento não havia nenhuma criança doente por perto. No entanto, e percebemos isto muito bem durante essa tarde, este não é um trabalho de aparências. Está-lhes dentro, e de nariz posto eles não são senão crianças. Por muito que estejam escondidos pelas cortinas, pelas portas, eles são assim e não deixam de o ser por não terem público.
Por isso, quando foi para falar a sério, tiraram o nariz. E puseram-nos logo à vontade, dizendo que poderíamos filmar à vontade aquele trabalho que iriam fazer (que era um extra, porque a sua actividade é mais virada para os quartos, para as crianças acamadas). Depois teríamos era que mandar um e-mail para a Associação para pedirmos para utilizar as imagens.
Ficámos muito satisfeitos. E a festa começou. Filmámos tudo o que conseguimos. Uns lá em cima, com a máquina do IPO, outros pela sala, para com a outra máquina captar as interacções dos palhaços com o público.
Aí, foi como entrar num novo mundo. Vimos coisas muito bonitas, coisas que nunca tínhamos tido a sorte de ver. Vimos crianças completamente deliciadas, e palhaços ainda mais deliciados com elas. Rimos, rimos muito, porque eles eram genuínos. Parecia que lhes estava no sangue. Brincavam com as crianças, com os adultos, com os idosos. Brincavam na plateia e brincavam no palco. Brincavam com os artistas, faziam-se eles próprios de grandes artistas. Cantaram com as tunas, com o coro, dançaram com os bailarinos. E teríamos conseguido fazer um documentário só com aquela tarde naquela festa. Captámos momentos de levar às lágrimas (de tanto rir) e outros de levar às lágrimas (mas desta vez de emoção).
É uma realidade completamente diferente daquela a que estamos habituados, e ver que a alegria está também presente, de mãos dadas com a doença, é gratificante.
Aprendemos muito naquela tarde. Eu aprendi. Aprendi que não podemos virar as costas à desgraça, porque ela se torna ainda mais desgraçada. Aprendi que podemos torná-la engraçada, e para isso basta querermos.
Temos muito a mania de fugir daquilo que mexe connosco. Fugimos da miséria, da doença, da pobreza. Fugimos de tudo o que nos põe em causa. Eu tenho vindo a aprender, e aquela tarde ainda o tornou mais claro, que fugir não é solução. Que encará-lo, tentar contribuir para diminuir essa miséria, essa pobreza, ou tentar amenizar a doença não só os ajuda a eles, mas nos faz mais pessoas. E sentimo-nos bem, porque demos tudo o que podíamos. Isso é humanizar. É ajudá-los a continuarem humanos, capazes de amar, apesar de todos os problemas. E é tornarmo-nos também mais humanos, mais dádiva. É tornarmo-nos mais felizes.
Mas há mais. Não foi só a festa que nos ajudou a compreender isto tudo. Tivemos a sorte de conseguir entrevistar dois doutores palhaços – o Doutor D’Agulha e o Doutor Boa Vida.
Estas entrevistas foram muito importantes para o trabalho. Uma delas alterou até a nossa forma de olhar para ele. Mas sobre isso falaremos e aprofundaremos mais tarde.
Para já, resta-nos agradecer àqueles quatro seres humanos fantásticos que tivemos a oportunidade de conhecer – o Rui, o Rodrigo e as duas Julietas. E ao enfermeiro Fernando, que com uma simpatia do tamanho do mundo teve sempre um sorriso e um “sim” para nos dar.
É bom haver gente assim. E é ainda melhor poder conhecê-los.
Obrigada.

Maria Inês Rocha

2 comentários:

Filipe disse...

Foi inacreditável. Tanta bondade, bondade pura, tanta pureza em cada sorriso, de cada criança, adolescente, adulto ou idoso. Foi inacreditável. Ver com os nossos próprios olhos a alegria a ser construída. Foi inacreditável. Ver respirar de alívio os pais que se acostumaram a ouvir falar de contagens de glóbulos brancos, tac's e tudo o mais, que miseravelmente se acostumaram a ver os seus filhos acostumados a não serem crianças. Foi inacreditável. Pensar que é aquilo que quero fazer. Quero ajudar quem não fez por merecer a sorte que tem (ou falta dela). Vi a ideia que tinha do ser humano que apenas olha para o seu umbigo e para a sua carteira ser transformada em esperança. Vi generosidade. Vi bondade. Vi magia. Vi o ser humano na mais pura das formas.
A verdade é que estou aqui a descrever o que não tem palavras. O que presenciamos apenas tem emoções. E foi inacreditável poder sentir tudo aquilo. Foi inacreditável. Inacreditável mesmo.
Obrigado.

Filipe Reis

Ricardo Ascensão disse...

Fogo!
Só com esta vossa descrição já me conseguiram deixar deliciado...

Vou esperar por esse documentário ;)

PARABÉNS por este vosso trabalho que (pelo que me vou apercebendo) vos tem feito crescer tanto.