Queríamos agora contar-vos e experiência que tivemos no dia 18 de Dezembro. O grupo deslocou-se ao IPO do Porto para assistir à festa de Natal, onde actuariam os “doutores palhaços” da Operação Nariz Vermelho.
Foi um sucesso. E falo-vos da festa em si, do que representou para as crianças (e não foi preciso que no-lo dissessem por palavras, os sorrisos bastaram), mas também do que contribuiu para o nosso trabalho.
Como já dissemos, estamos a planear fazer um documentário no fim do ano, para mostrar às pessoas que o hospital tem de ser, acima de tudo, um lugar humano e, por isso, um lugar
Assim, conseguimos arranjar à última da hora uma máquina de filmar já um quanto antiga, e preparávamo-nos para com ela filmar tudo o que pudéssemos e que fizesse sentido incluir no documentário.
O que não esperávamos é que, no IPO, nos abrissem todas as portas e nos recebessem ao ponto de nos emprestarem uma máquina com uma qualidade altíssima para filmarmos o espectáculo. Única condição: filmarmos o espectáculo inteiro, para que pudessem ficar com uma recordação do mesmo. Depois, ceder-nos-iam a gravação, e poderíamos com ela fazer o que quiséssemos.
Ficámos ra-di-an-tes. As expectativas em relação àquela festa eram altas, porque seria o primeiro contacto directo com o trabalho da Associação Nariz Vermelho. Não sabíamos se nos deixariam filmar, não sabíamos se nos deixariam sequer ficar numa festa que não era nossa. Mas estávamos lá dentro, e para já era o que interessava. Só faltava um pormenor muito importante: falarmos com os doutores palhaços e perguntarmos se poderíamos, mais tarde, utilizar aquelas imagens num documentário para a escola.
Estávamos nervosos em relação a isso. A verdade é que tínhamos aparecido de surpresa, e não tínhamos a certeza de serem totalmente receptivos. Mas mais uma vez, superaram as expectativas.
Por isso, quando foi para falar a sério, tiraram o nariz. E puseram-nos logo à vontade, dizendo que poderíamos filmar à vontade aquele trabalho que iriam fazer (que era um extra, porque a sua actividade é mais virada para os quartos, para as crianças acamadas). Depois teríamos era que mandar um e-mail para a Associação para pedirmos para utilizar as imagens.
Ficámos muito satisfeitos. E a festa começou. Filmámos tudo o que conseguimos. Uns lá em cima, com a máquina do IPO, outros pela sala, para com a outra máquina captar as interacções dos palhaços com o público.
Aí, foi como entrar num novo mundo. Vimos coisas muito bonitas, coisas que nunca tínhamos tido a sorte de ver. Vimos crianças completamente deliciadas, e palhaços ainda mais deliciados com elas. Rimos, rimos muito, porque eles eram genuínos. Parecia
É uma realidade completamente diferente daquela a que estamos habituad
Aprendemos muito naquela tarde. Eu aprendi. Aprendi que não podemos virar as costas à desgraça, porque ela se torna ainda mais desgraçada. Aprendi que podemos torná-la engraçada, e para isso basta querermos.
Temos muito a mania de fugir daquilo que mexe connosco. Fugimos da miséria, da doença, da pobreza. Fugimos de tudo o que nos põe em causa. Eu tenho vindo a aprender, e aquela tarde ainda o tornou mais claro, que fugir não é solução. Que encará-lo, tentar contribuir para diminuir essa miséria, essa pobreza, ou tentar amenizar a doença não só os ajuda a eles, mas nos faz mais pessoas. E sentimo-nos bem, porque demos tudo o que podíamos. Isso é humanizar. É ajudá-los a continuarem humanos, capazes de amar, apesar de todos os problemas. E é tornarmo-nos também mais humanos, mais dádiva. É tornarmo-nos mais fel
Mas há mais. Não foi só a festa que nos ajudou a compreender isto tudo. Tivemos a sorte de conseguir entrevistar dois doutores palhaços – o Doutor D’Agulha e o Doutor Boa Vida.
Estas entrevistas foram muito importantes para o trabalho. Uma delas alterou até a nossa forma de olhar para ele. Mas sobre isso falaremos e aprofundaremos mais tarde.
Para já, resta-nos agradecer àqueles quatro seres humanos fantásticos que tivemos a oportunidade de conhecer – o Rui, o Rodrigo e as duas Julietas. E ao enfermeiro Fernando, que com uma simpatia do tamanho do mundo teve sempre um sorriso e um “sim” para nos dar.
É bom haver gente assim. E é ainda melhor poder conhecê-los.
Obrigada.